Não se preocupe em entender.Viver ultrapassa todo entendimento.Minha força está na solidão.Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas,pois eu também sou o escuro da noite.Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.Eu não:quero uma verdade inventada.Ela acreditava em anjos,e porque acreditava,eles existiam.Liberdade é pouco.O que eu quero ainda não tem nome.Saudade é um pouco como fome.Só passa quando se come a presença.Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:quer-se absorver a outra pessoa toda.
Gosto dos venenos os mais lentos,as bebidas as mais fortes,dos cafés mais amargos e os delírios mais loucos.Você pode até me empurrar de um precipício que eu vou dizer:"e daí,eu adoro voar!".Não sei se quero descansar,por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir.Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa dos nossos sonhos e abraçá-la.Não era mais uma menina com um livro,era uma mulher com seu amante.
Minhas desiquilibradas palavras são o luxo do meu silêncio.Que medo alegre o de te esperar.Corro perigo como toda pessoa que vive e a única coisa que me espera é exatamente o inesperado.Por enquanto estou inventando a sua presença.Perdi alguma coisa que me era essencial.Nessa pessoa organizada eu me encarnava e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver.
Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo?Mas porque não me deixo guiar pelo que for acontecendo?Terei que correr o sagrado risco do acaso e substituirei o destino pela probabilidade.Perder-se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando.Mas enquanto eu estava presa,eu estava contente ou eu estava tão habituada que pensava que latejar era ser uma pessoa?
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